terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fagulhas de História da Colonização de Bocaina- PI

Foto: Firmino Libório Leal
Fugulhas de História da Colonização de Bocaina - PI
Firmino Libório Leal
Jornalista e Escritor

O Instituto Histórico de Oeiras em um dos seus textos introdutórios traz a seguinte afirmação de autoria do insigne literato Férrerr Freitas, sectário do IHO, patriota extremado, e filho da poética, histórica e inspiradora Oeiras, ei-lo: “lá pelos anos sessenta do século XVII, as trilhas sem medo dos vaqueiros românticos da Casa da Torre esbarraram nos Rios Canindé, Guaribas, Itaim e Riacho da Mocha. Hoje, região de Oeiras, Picos e Bocaina no Estado do Piauí. O mais audaz desses vaqueiros foi o patriarca Domingos Afonso Mafrense, um português de Mafra, chamado também pela bravura, Domingos Afonso Sertão. É por isso que ainda hoje quem nessa terra nasce se diz mafrense, apelido primeiro do bravo sertanista desbravador”.

“Em 1696 o patriarca criou em terras da fazenda primitiva, uma Freguesia com capela dedicada a Nossa Senhora da Vitória. Seu território foi desmembrado da Freguesia pernambucana de Cabrobó, jurisdição eclesiástica a que estava então sujeito”.

“Por carta Régia de 30 de junho de 1712, o povoado foi elevado à categoria de Vila, conservando o nome. Criada a Capitania de São José do Piauhy, independente do Maranhão, por carta Régia 29 de julho de 1758, a vila da Mocha foi designada para sede do novo Governo com denominação de Oeiras, em homenagem ao Ministro Sebastião José de Carvalho e Melo Conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal”.


Em 13 de maio de 1732 aportava na localidade “Boqueirão”, hoje sede do município de Bocaina/PI, o patriarca português Antônio Borges Leal Marinho. Em sua comitiva trouxe sua mulher por nome “Rosa”, um grupo de 60 escravos, várias famílias de agregados, um razoável rebanho de animais, sendo a maioria gado vacum e cavalos. Vieram também em sua companhia os seus irmãos: Albino Borges Leal Marinho, Francisco Borges Leal Marinho e Antônia Borges Leal Marinho. Naquela data marcante Borges Marinho escolheu um escravo de sua confiança para cumprir a missão de verificar a montante do cristalino regato que banhava aquelas paragens. Após percorrer o rio até sua nascente, ao regresso o escravo deu a boa notícia ao seu senhor: a existência de água em abundância e várzeas de terras férteis. Naquele instante o sertanista desbravador bateu com a coronha do seu Bacamarte naquele chão sagrado e bradou: “cheguei à terra prometida, aqui hei de ficar até a morte”.

Borges Marinho após conseguir a concessão de datas (sesmarias), ou seja, a posse das terras ora a serem desbravadas, dividiu-as em várias fazendas e as denominou: Arrodeador, Guaribas, Riachão e Bocaina. Borges Marinho era pessoa muito religiosa, pois vinha de uma família portuguesa com essa tradição, por isso, procurou logo construir uma capela. Assim, após sua chegada deu-se início a construção de um templo religioso, cuja construção demorou vários anos, pois o seu termino deu-se em 1754, ano em que a capela foi sagrada pelo jesuíta João Sampaio, mais precisamente no dia 8 de dezembro daquele ano. Na mesma ocasião ocorreu o batismo de “Rosa” como o nome de Maria da Conceição Borges Leal, em homenagem à santa padroeira a Virgem Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem fora doada pela irmã de Borges Marinho, a Srta. Antônia Borges Leal Marinho, que doou também o sino da capela. Nesta mesma data celebrou-se o casamento do patriarca com “Rosa”, agora Maria da Conceição Borges Leal, pois o mesmo vivia maritalmente com ela há vários anos. Voltemos aos irmãos de Borges Marinho. Antônia Borges Leal Marinho fixou residência na localidade Ipueira e ali instalou uma grande fazenda de gado. Albino Borges Leal Marinho fixou residência no sertão dos Inhamuns, hoje sede do município de Tauá/CE, onde também instalou uma fazenda para criatório de gado vacum. Francisco Borges Leal Marinho fixou sua residência mais ao norte, onde hoje se situa a sede do município de Buriti dos Lopes/PI.

Antônio Borges Leal Marinho deixara em Portugal um irmão menor por nome Gonçalo Borges Leal Marinho e seus pais que eram fidalgos, ou melhor, pertenciam à nobreza portuguesa, fazendo parte da grande família “Borges Leal Marinho”. Uma família de militares, ligada à Coroa e entremeada com os Britto. São pais de Antônio, Albino Francisco, Antônia e Gonçalo: O tenente Coronel da Arma de Cavalaria do Exército Português, João Borges Leal Marinho e Anna de Souza Britto.

O jornalista, e escritor Antônio Bugyja de Souza Britto no seu livro Narrativas Autobiográficas revela: “foi comum a vinda de imigrantes portugueses para São José do Piauhy, logo após seu primeiro governador João Pereira Caldas, a 20 de dezembro de 1759. Assim que assumira a função prestara ao Reino boas informações a respeito da terra, tais como: clima, salubridade, riquezas vegetais e possíveis minerais. De forma que apareceram na Península muitos interessados em se estabelecerem na recém-criada capitania. São José do Piauhy já tinha uma tradição de região apropriada para o criatório de gado e cavalos, pois que um dos sertanistas, Domingos Afonso Mafrense e seu irmão Julião Afonso Serra, bem como alguns membros da Ordem dos jesuítas tinham sido possuidores de imensos rebanhos, provando deste modo, a excelência das pastagens”.

Os relevantes serviços prestados pelo patriarca João Borges Leal Marinho ao Exército português, veio culminar com a sua aposentadoria, além de ter auferido a concessão de terras (sesmarias) como gratidão pela lealdade dedicada ao Rei. A saudade dos filhos, juntamente com as boas referências da região que chegava do além-mar, fez com que João ou coronel Borges Marinho como era conhecido, sua mulher Anna e o seu filho Gonçalo migrassem para o Brasil. Chegaram ao litoral baiano. Da Bahia ao sertão piauiense o trajeto foi feito a cavalo. Chegaram em Oeiras em fins de 1760, portanto 6 anos após a sagração da capela de Bocaina construída por Antônio Borges Leal Marinho e sagrada pelo jesuíta João Sampaio. O coronel João Borges Leal Marinho encontrou-se com seus filhos; Antônio, Albino, Francisco e Antônia, que anos antes vieram para o Brasil. De Oeiras a Patrocínio (Hoje Pio IX), a área somava aproximadamente trezentos quilômetros, cerca de cinquenta léguas e tudo pertencia à família Borges Marinho. Num cálculo pessimista, nos dias de hoje, a quantidade de terra orçava por mais de cem mil hectares.

Gonçalo, agora rapagão, assumiu a fazenda Curralinho (Hoje sede do município de Picos/PI) e casou-se com Antônia Maria de Souza. Os anos se passaram e veio o desaparecimento do Cel. Marinho e esposa, bem como o de Antônio e esposa. Da mesma forma de Gonçalo e sua mulher Antônia Maria de Souza, passando a Fazenda Curralinho pertencer ao sobrinho da família, Félix Borges Leal, homem provido de raro senso administrativo. Aumentou significativamente a propriedade, com ampliação nos negócios de criação de gado e compra e venda de tropas de animais de sela e carga. Tanto que surgiu nos arredores da sede da fazenda uma Ermida construída sob seus auspícios, (hoje Capela Sagrado Coração e Jesus) e uma vila com satisfatório casario, (antiga Rua Velha). Surgia então, a pujante, próspera e altaneira, Picos. Fato que, Félix Borges Leal é merecidamente considerado por muitos, fundador da cidade. Então, Picos nasceu a partir de Bocaina.

O insigne literato e eminente professor, escritor e historiador Fonseca Neto em notável artigo jornalístico relata: “na perspectiva de longo prazo, a ocupação e adensamento da povoação principal da Bocaina se dá mesmo com a fixação de Borges Marinho e seus agregados a partir da ereção da capela do lugar, a quem o fundador doou significado patrimônio territorial. Nos anos seguintes desde 1754, a povoação da Bocaina, então sob a jurisdição civil e eclesiástica de Oeiras, é a que mais prosperará em todo vale do Guaribas, sendo mesma a principal referência da vida social da sub-região. Mas uma outra fazenda de gado do dito vale, cresce muito nos anos que se avizinham aos meados do século XIX: é a fazenda Curralinho, que em 1851 se tornava à cabeça da Freguesia e em 1855 em município, com a designação de Picos. O novo município prosperava, absorvendo as energias e forças vitais da mesoregião e, assim, induzindo a já então secular povoação da Bocaina a relativo declínio. Desaparecido o fundador de Bocaina, consta que um filho seu, Raimundo de Souza Britto, continuou como referência nos negócios da família”.

Crônica publicada no Jornal de Picos,
Jornal Folha de Picos e no livro Antologia Upeana. Obra publicada pela União Picoense de Escritores em fevereiro de 2005.

domingo, 26 de julho de 2009

Raimundo de Souza Britto

Foto: Acervo disponível na Web

Raimundo de Souza Britto
Crônica
*Firmino Liborio Leal



Ao relatar aqui alguns feitos da figura ímpar de Raimundo de Souza Britto, me sinto orgulhoso, não só por ele ter sido meu sexto avô, mais sim, pela figura proba, próspera e moderna para os padrões da época. Este cavalheiro andante que outrora percorreu caminhos, e cruzou fronteiras pelas plagas do rincão piauiense.

Raimundo de Souza Britto nasceu no ano de 1780, na fazenda Canabrava, data Bocaina então município de Oeiras, capital da capitania de São José do Piauhy. Era filho de Antônio Borges Leal Marinho e Maria da Conceição Borges Leal (Rosa). Filho único, Raimundo casou-se com sua prima legitima, Narciza Borges Leal Britto. Deste casamento tiveram quatorze filhos, sendo dez homens e quatro mulheres, os homens: Pedro de Souza Britto, Januário de Souza Britto, Joaquim Reinaldo de Souza Britto, José Cipriano de Souza Britto, Francisco Raimundo de Souza Britto, Manoel de Souza Britto, Vicente de Souza Britto, Janjão de Souza Britto. Ezequiel de Souza Britto, Antônio Francisco de Souza Britto, as mulheres: Mariana Leal Britto, Anna Josefa Leal Britto, Josefa Anna Leal Britto e Maria Francisca Leal Britto.

Raimundo de Souza Britto também teve três filhos de outro matrimônio com uma mulher por nome Maria Joaquina da Conceição. Os filhos: Benedito de Souza Britto, (que foi pai do advogado e poeta Pedro de Souza Britto e avô do escritor Antônio Bugyja de Souza Britto) Raimundo de Souza Britto Filho e Antônio de Souza Britto.

Maria Joaquina da Conceição era filha de uma mulher por nome: Simphorosa Maria do Carmo, que atendia pela alcunha de “Mariquinha Simphorosa”. Maria Joaquina da Conceição vivia na então capital da província do Piauí, a poética, histórica e inspiradora Oeiras, situada às margens do riacho da Mocha. Dali e de Bocaina se expandiu a grande família “Souza Britto”, descrita de maneira extraordinária e com excepcional riqueza de detalhes pelo insigne literato, meu parente, Antônio Bugyja de Souza Britto na sua obra de rara beleza publicada em 1977.

Vejamos a dissertação de Bugyja Britto sobre essa figura lendária; filho e sucessor de Borges Marinho. “Raimundo de Souza Britto, foi um percursor do pioneirismo da família na criação de gado, eis que desbravou terras, fundou fazendas, fez benfeitorias agrícolas e a exemplo dos seus antepassados até contribuiu para que viessem de Portugal outros elementos que migraram posteriormente com suas famílias, é desse tempo, ou melhor, dessa migração que vieram os Nunes, os Portela, Gomes Caminha e Fonte. Raymundo continuou a obra pioneiríssima encetada pelos seus ascendentes, deu um aumento substancial na produção de gadaria. Ele centralizou as propriedades na data Bocaina (havia outras datas como: Sussuapara, Arrodeador, Riachão, Curralinho etc.), fundou uma fazenda que, para o tempo, se tornou modelar, basta saber-se que construí, além da casa de residência, galpões, currais e cercados de pedras, paios, armazéns, fez melhorias numa ermida e no cemitério que hoje é a histórica igreja da Bocaina e o cemitério velho. A maior parte das terras passou a fazer parte de Picos, quando se criou este município em 1890, desmembrando-se do município de Oeiras, atualmente em virtude de posteriores divisões municipais, as mesmas terras começaram a fazer parte, além do município de Picos, dos municípios de Bocaina, Santo Antônio de Lisboa, Francisco Santos, São João da Canabrava, São Luiz do Piauí, São José, Dom Expedito Lopes, Ipiranga, Pio IX; etc”.

“Todavia, Raimundo de Souza Britto tem outro título, além de criador progressista, na sua vida sertaneja: é o de patriota extremado, pois contribui denodamente com largos haveres para as lutas da independência. Às suas custas armou homens que eram, na maioria, seus empregados e parentes, forneceu animais de sela e de carga, e ainda armamento que mandou comprar na Bahia, sigilosamente. È certo que ele era amigo e compadre de Manoel de Souza Martins, depois Visconde da Parnaíba e governador da província, e um dos “leaders” da campanha emancipacionista no Piauí, mas nem por isso Raimundo desmerece exaltação pública, mesmo no caso de agir por inspiração de seu chefe, amigo e compadre, o referido Visconde da Parnaíba”.

“Raimundo de Souza Britto, segundo crônica local, veio a possuir nas décadas de 1815 a 1835, um rebanho avaliado em 15 mil cabeças de gado vacum. Ele tornou-se pessoa conhecida e estimada pela sociedade local, dada a sua ação de caráter cívico e ainda, possivelmente, pela sua posição decorrente de um grande patrimônio em bens materiais”.

“No volume 1 da publicação oficial – As juntas governamentais e a independência, que o Conselho Federal de Cultura mandou imprimir em 1973 sob os auspícios do Ministério da Justiça e orientada pelo Arquivo Nacional, vamos encontrá-lo ao lado de outras pessoas gradas, assinando uma ata de caráter importante (a que se refere ao juramento que prestou, em Oeiras, à constituição do Império do Brasil no dia 17 de julho de 1824)”.

Raimundo de Souza Britto faleceu em 1842, tinha 62 anos de idade. Deixou uma grande descendência de 17 rebentos vivos.


O insigne literato Antônio Bugyja de Souza Britto em seu livro “Narrativas Autobiográficas” afirma que Raimundo de Souza Britto, seria filho de Gonçalo Borges Leal Marinho e Antônia Maria de Souza. É difícil combater o empirismo de um seleto grupo de historiadores autodidatas da Bocaina, que afirmam que Raimundo de Souza Britto é filho de Antônio Borges Leal Marinho  fundador da Bocaina e Maria da Conceição Borges Leal. É mister relatar que dentro de um raciocínio lógico, razoável e possível, Raimundo seja filho de Antônio Borges Leal Marinho e Maria da Conceição Borges Leal, pois a fazenda Canabrava onde ele nasceu dista 6 léguas de onde Gonçalo e Antônia moravam, ou seja, outra fazenda da família, “Curralinho” hoje sede do município de Picos, e a fazenda Canabrava pertencia a data Bocaina, administrada por Antônio Borges Leal Marinho, eis aí mais um fato merecedor de nossa observação. O próprio Bugyja Britto no seu livro descreve: “Naquele tempo, não havia, no Brasil Colônia, registro civil, nem mesmo na monarquia, os registros das pessoas eram feitos apenas pela igreja católica em livro próprio (batistério), pois a igreja era vinculada ao estado português. Somente com o advento do decreto n º 181 de 24 de janeiro de 1890, portanto já no Brasil república, é que veio existir o registro civil, posteriormente confirmado pelo código civil vigente desde 1º de janeiro de 1917”.Questões à parte acho que estes fatos não denigrem e nem depreciam a essência da saga dos acontecimentos narrados. A propósito; quando escrevi esse arremedo de crônica, em 10 de janeiro de 2004, o descendente mais próximo de Borges Marinho que ainda vivia, era o senhor Urbano Leal de Souza Britto, figura centenária, historiador autodidata, residia na Fazenda “Malhada, município de Bocaina-Pi. Urbano faleceu em novembro de 2006.


Crônica publicada no Jornal de Picos,
Jornal Folha de Picos e no livro Antologia Upeana. Obra publicada pela União Picoense de Escritores em fevereiro de 2
005.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Carta a Odorico Carvalho


Caríssimo Odorico Carvalho:

Apraz-me o privilégio e a honra de ter como berço o mesmo pago que o viu nascer. Li, via Internet, sua belíssima crônica intitulada: “Uma tragédia humana”. Trata-se de uma pérola, fruto dos sentimentos que brotam do fundo do coração de um insigne literato e musicista que possui, além destas, outras qualidades que são peculiares de quem nasceu nesta terra abençoada, berço de tantos vultos ilustres.

A maneira como você discorreu sobre seus sentimentos nos transportou a 1963 quando, em conseqüência da firme amizade reinante entre os nossos pais, a sua casa nos foi cedida para que passássemos o período do plantio da safra de alho junto ao velho e bondoso rio Guaribas, então ainda cristalino e piscoso.

Certo: eu me lembro bem de algumas particularidades daquela belíssima propriedade, entre as quais destacamos o curral, que ficava no oitão a leste da casa. Foi lá que vi, pela primeira vez, um girassol, célebre, o qual enfeitava a porta de entrada da cozinha que dava para um roçado ali próximo. Nos fundos da casa existia um jardim natural composto de várias “Moitas Brancas”, enfileiradas e entrelaçadas como se ali tivessem sido plantadas pela mão do Grande Geômetra do Universo. À tardinha, nós tínhamos que levar o gado até o rio Guaribas, que fica ali próximo, o que fazia parte das nossas atividades corriqueiras. Depois fazíamos a “apartação”, algo que consiste em separar as vacas lactantes dos bezerros, seus filhotes. Lembro-me do touro principal: era da raça Gir, malhado em preto e branco, e tinha por nome “Jardineiro”; um belo exemplar da espécie, digamos de passagem. Tudo pertencia à sua família e nos foi confiado naqueles dias, inclusive o leite, em conseqüência da sólida amizade existente entre os nossos progenitores.

Essas imorredouras lembranças nos transportam aos tempos áureos do verdor da nossa meninice, da nossa infância. Vez por outra, quando vou à Lagoa Grande, ao me deparar com a casa que você descreveu com impressionante lirismo, subo num pequeno belvedere que chamávamos de “Barrocão” e fico a contemplar a casa e a paisagem à sua volta, como se fosse uma tela pintada pela mão do Criador. Saudades...

Crônica extraida do livro "Vozes da Ribeira" publicado pela UPE - União Picoense de Escritores em fevereiro de 2008.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Admiável Gado Manso

Foto acervo disponível na Web

Admirável Gado Manso


O insigne literato Antônio Bugyja de Souza Britto em seu livro Narrativas Autobiográficas relata: “o gado constituiu no Piauí uma das fontes da sua história, entrecortada de eras progressistas e de períodos decadentes, tão comuns nas estruturas econômicas de cada gente ou região”. Certo, essa influência está perpetuada em lugares, aspectos geográficos, e até mesmo através de algumas pessoas da região, cujos apelidos e, às vezes, até o próprio nome, estão relacionados com a rês, com o gado. Por isso, da mesma forma que Bugyja, nós acreditamos que, “o rebanho foi o exórdio formador dum ciclo de civilização em nosso meio”. Haja vista, ter sido construída no Piauí no final dos anos oitocentos, a segunda Fábrica de Laticínios do Brasil, idealizada pelo visionário Dr. Antônio José de Sampaio, nas antigas Fazendas Nacionais, hoje, Campinas do Piauí: a Fábrica de Laticínios dos Campos. A histórica, poética e inspiradora Oeiras nasceu a partir dos criatórios e currais de gado vacum, além disso, conta a história que os Jesuítas foram possuidores e criadores de imensos rebanhos no centro sul do Piauí.

Declinamos aqui alguns aspectos que ratificam o nosso ponto de vista. A cidade de Picos originou-se da Fazenda Curralinho, que logicamente estava ligada ao rebanho, curral, gado etc. Existe também no município uma localidade chamada Vaca Morta. E o Morro Quebra-pescoço? Elevação montanhosa na localidade de Ipueira, próximo à cidade? Esta tem seu nome vinculado a um fato ocorrido há muito tempo: aconteceu que um vaqueiro em perseguição a uma rês fujona, em plena sexta-feira da paixão, teria despencado precipício a baixo, ocasião em que morreram o vaqueiro, o cavalo e a rês, curiosamente todos com os pescoços quebrados.

Na divisa dos municípios de Bocaina e Sussuapara, existe uma colina chamada de Alto do Gado Manso, e até hoje, tem sido lugar de descanso do gado que curiosamente ainda é criado no sistema semi-ostensivo.

Uma outra colina ficou famosa na memória do povo bocainense: trata-se do Morro Pelado Borges. Segundo crônica local, este era o local predileto do sertanista e desbravador Antônio Borges Marinho Leal, considerado o fundador da Bocaina; de lá, célebre, ele ficava observando e às vezes até contando o rebanho que obrigatoriamente por ali passava rumo ao bebedouro no Rio Guaribas.

Conta-se que este procedimento foi sistematicamente seguido por Raymundo de Souza Britto, seu filho e, portanto, sucessor, figura proba e lendária, um homem extraordinário para os padrões da época. Segundo a crônica local e conforme descreve o próprio Bugyja, “Raymundo chegou a possuir entre os anos de 1815 a 1835 um rebanho estimado em cerca de 15 mil cabeças de gado vacum. Ele contribuiu denodadamente com largos haveres para o movimento de emancipação e independência do Brasil. Além de criador progressista, foi um patriota extremado. Às suas custas armou homens que eram, na maioria, seus empregados e parentes, forneceu animais de sela e de carga, e ainda armamento que mandou comprar na Bahia, sigilosamente, tudo isso em prol das lutas de independência do Brasil, que no Piauí causaram derramamento de sangue. Foi ele uma das pessoas gradas que assinou uma ata de caráter importante (a que se refere ao juramento que prestou, em Oeiras, à Constituição do Império do Brasil no dia 17 de julho de 1824)”.

Voltemos ao gado. Bocaina está entre montanhas, seu próprio nome originou-se de Boqueirão, que significa abertura ou garganta na serra, onde corre um rio, ou quebrada de serra. Pois bem, vejamos: a oeste da cidade, existe a Serra da Cozinheira e as fazendas Malhada e Ramalhete e ao norte o Morro do Carvalho. O nome “Cozinheira” atribui-se a uma vaca que, depois de descer da aludida serra para beber água no Rio Guaribas, no retorno invadia as cozinhas das fazendas por onde passava. Obedecendo ao costume da época, as cozinhas eram abertas e edificadas sob varandas. Da mesma forma que o nome da fazenda “Malhada” está relacionado a uma vaca de estimação pertencente ao casal Nicolau Borges Leal e Mariana Leal de Souza Britto. O mesmo aconteceu com a propriedade “Ramalhete”, que pertencia à mesma família; trata-se de uma alusão a uma junta de bois: “Ramalhete” e “Lavrado” que sempre pastavam em determinada localidade, hoje, conhecida por “Ramalhete”. E o Morro do Carvalho? Consta que, por determinação do seu senhor, um escravo por nome Carvalho, matou uma onça feroz, que dizimava os novilhos e novilhas que pastavam no sopé de uma montanha que fica ao norte da cidade de Bocaina. Em conseqüência deste ato de bravura, ficou caracterizado para sempre o nome Morro do Carvalho em homenagem ao feito heróico do escravo.

A propósito: existe um refrão de uma canção do folclore piauiense, que diz:

“O meu boi morreu,
que será de mim?
manda buscar outro, maninha,
lá no Piauí”.

Crônica extraída do livro “Vozes da Ribeira” publicado pela UPE – União Picoense de Escritores em janeiro de 2008.

Rio Guaribas


Rio Guaribas
Crônica
Firmino Libório Leal

Guariba é o nome comum de várias espécies de macacos do gênero Alouata. Atribui-se a esses bugios “Guaribas”, o nome dado ao rio que outrora fora cristalino, caudaloso, piscoso, e que corta essas paragens. Esses macacos viviam em bandos nas margens do rio, e foram dizimados pelos primeiros desbravadores que aportaram nesta região, permanecendo o nome de “Guaribas” até os dias de hoje. No entanto ainda existe uma considerável população de Guaribas principalmente na localidade Serra Alta.
O rio Guaribas já foi celeiro agrícola. Além da linfa generosa que saciava a sede, o bondoso rio nos fornecia as safras de alho, cebola, legumes, pastagens etc. Foi com o fruto dessas safras colhidas no seu verdejante leito que muitos pais de famílias tiraram o seu justo ganho, criaram e formaram seus filhos que se tornaram doutores. O rio Guaribas hoje se encontra desprezado, poluído e sujo, justamente ele que deu origem às cidades e que sempre prestou um bem social de proporções imagináveis as populações ribeirinhas. A edição número 253 do Jornal de Picos publicou a seguinte crônica de nossa modesta autoria, alusiva ao prodigioso rio.
GUARIBAS
Água cristalina e pura mansamente descia em busca do ribeirão maior, levando consigo a linfa generosa que saciava a sede. Quantos brincaram no leito do Guaribas? O rio atravessa as cidades para alcançar os confins das Aroeiras rumo à serra da Atalaia. Nas suas margens as lavadeiras a trabalhar no afã diário de lavar roupas das famílias mais abastadas. Cícero Mota que ficara famoso pela língua destravada sob os efeitos do álcool, ali fabricava adobes para fornecer os senhores Adalberto, Dagoberto e Piau que foram os pioneiros na construção de casas populares em Picos.
O Guaribas desde a sua nascente até à confluência com o rio Canindé, recebe o Riachão que vem das bandas de Francisco Santos e se junta ao rio Itaim que vem das bandas de Itainóplis, além de outros córregos de menor curso. Era água a correr dia e noite. Seca e verde. Dessa água serviam-se os moradores das margens do Guaribas. A fartura de água era coisa notada por todos aqueles que aportavam à cidade, que se tornara famosa pela qualidade da água, a mesma água que descia pelo Guaribas.

Recordações... Qual o ribeirinho que não brincou nas areias do velho Guaribas? Várias gerações, acredito.

“Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”.

Fernando Pessoa

Crônica extraída do livro “Vozes da Ribeira” publicado pela UPE -0União Picoense de Escritores em janeiro de 2998.

A Coluna Preste no Piauí " O Fogo da Boa Vista"


“A Coluna Prestes no Piauí” - O Fogo da Boa Vista
Crônica
Firmino Libório Leal


A Coluna Prestes foi um movimento político-militar de origem tenentista, que entre 1925 e 1927 empreendeu uma marcha pelo interior do Brasil defendendo reformas políticas e sociais e combatendo o governo do presidente Artur Bernardes (1922-1926). No ambiente de contestação às oligarquias e sob a influência do tenentismo, remanescentes da Revolução de 1924 uniram-se a dissidentes do Rio Grande do Sul e seguiram para o interior. Sempre conseguindo vitórias, a Coluna combateu forças regulares e milícias privadas de fazendeiros. A Coluna que poucas vezes enfrentou grande efetivo do governo empregava táticas de guerrilha, para confundir as tropas legalistas. Cerca de 1200 homens, chefiados por Juarez Távora, Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes percorreram, durante 29 meses, 25 mil km nos estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Ao final de 1926, com mais da metade dos combatentes atacados pela cólera e sem poder continuar a luta, a Coluna procurou asilo na Bolívia. Não conseguindo derrubar o governo do presidente Washington Luiz (1926-1930), mas a invencibilidade da Coluna contribuiu para o prestígio político do tenentismo e reforçou as criticas as oligarquias. Sua atuação ajudou a abalar os alicerces da República Velha, a preparar a Revolução de 1930, a afirmar a liderança nacional de Luiz Carlos Prestes.

A passagem da Coluna Prestes por Bocaina, Piauí, deixou rastro de pavor, e o pânico tomou conta da população. Cerca de duzentos revoltosos compunham o grupo. Eles permaneceram na região vários dias, ocasião em que invadiam casas, fazendas, retiros, sempre à procura de bens, víveres, animais, ouro, prata e tudo que pudesse ajudar nos custos da revolução comunista encetada por Luiz Carlos Prestes, que não fez parte deste grupo e não participou deste episódio. Foram ações dessa natureza que rotulou a Coluna com uma imagem negativa, pois transmitia o medo generalizado na população.

O fato mais importante dessa intentona na região se deu na data de 20 de janeiro de 1926 na fazenda Boa Vista, zona rural de Bocaina, ocasião em que os revoltosos ocuparam a propriedade obrigando a fuga de parte da família do fazendeiro e comerciante Cícero Gomes Vieira, permanecendo dois de seus irmãos e uma criada, como reféns. Este acontecimento ficou registrado nos anais da história como “O Fogo da Boa Vista”, e permanece vivo até hoje na memória do povo bocainense.

O confronto entre os membros da Coluna e as tropas legalistas durou mais de duas horas, ficou gravemente ferido o senhor Ciro Gomes Vieira e morto seu irmão Arlindo Gomes Vieira que fora abatido pelas forças leais ao governo que o confundiu com um dos revoltosos.

Segundo a crônica local, as tropas legalistas saíram vencedoras e os revoltosos fugiram para o Ceará com muitas baixas. Na fuga perderam um alforje com dinheiro, prata e ouro que foi encontrado pela agregada Maria de Rufino, que com medo de maiores consequências e em obediência o entregou ao seu patrão senhor Cícero Gomes, que ampliou ainda mais sua fortuna.

A fazenda Boa Vista outrora fez parte do grande patrimônio do genearca Raymundo de Souza Britto, filho de Borges Marinho, que a deixou como herança para um de seus filhos, o capitão da Guarda Nacional Antônio Francisco de Souza Britto, este consequentemente a deixou para um de seus descendentes Vicente Francisco de Sousa Britto, que deixou para sua filha casada com o comerciante  Cícero Gomes Vieira, que anos depois, vendeu a propriedade ao senhor João Trajano.A propriedade hoje pertence aos seus herdeiros legais.

A propriedade era composta de açude, engenho de cana, pastagens, juncais, currais de madeira, cercas de pedras, e a casa da sede principal construída nos moldes dos grandes latifúndios nordestinos, inclusive, preservando no seu interior, os recursos de escadaria e sótão, que servia de abrigo em épocas de tensão como este episódio em epígrafe, sendo que na lida cotidiana, servia para o patrão postar-se na janela de onde, célebre, ordenava as atividades e afazeres corriqueiros do dia aos seus empregados.

A propósito: contava e cantava o poeta e folclorista bocainense Luiz Camilo, que por ocasião do fogo da Boa Vista um outro descendente da figura histórica e lendária de Raymundo de Souza Brito, o senhor Carlos Antônio de Souza Brito, mais conhecido por “Véi Carrim” acometido de imenso pavor, saiu correndo da fazenda Boa Vista até o arraial “Aroeiras” no sopé do Morro Grande, e, lá chegando, esbaforido pelo cansaço e pelo medo, narrou os acontecimentos carregado de grande emoção; daí ficou perpetuado para sempre nos versinhos do poeta alusivo ao fato:


“No fogo da Boa Vista
Carrim deu de d lá pra cá,
Chegando nas Aroeiras
Modesto, vamos rezar,
Que guerra começou
E nóis vamos se acabar”.

Crônica publicada no livro “Vozes da Ribeira” publicado pela UPE – União Picoense de Escritores em Janeiro de 2008.

Festa de Nossa Senhora Imaculada Conceição

Foto: Acervo disponível Web

FESTA DE NOSSA SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃO
Oito de dezembro de 2014
Crônica
Firmino Liborio Leal


É madrugada do dia oito de dezembro em Bocaina - PI. A natureza acorda. A aurora rompe trazendo consigo os primeiros clarões. O Aracati sonoro bafeja os montes, morros, morrotes, serras, várzeas e baixões e faz bailar as folhas dos carnaubais numa mistura de movimentos graciosos e sincronizados, anunciando o despertar de mais um dia glorioso e festivo na legendária cidade.

Muitos fogos e repiques do sino ressoam no espaço trazendo as mais belas e gratas recordações. É a festa de Nossa Senhora Imaculada Conceição. Pessoas chegam à cidade cumprindo promessas; conterrâneos ausentes, hoje felizes, retornam à terra querida; crianças, jovens e adultos se entrelaçam a fim de homenagearem a santa padroeira da festa.

Hora da missa: excelentíssimos e reverendíssimos senhores Bispo e Pároco convidam os fiéis a rezar. Ali, junto á igreja de belo adro, um coral tocando e cantando harmoniosamente. Espalhados pelos quatro cantos da praça, que é um jardim e cartão de visitas da cidade, os fotógrafos com suas máquinas fotografando as pessoas que se alinham posando para a foto do ano: uma feliz recordação. Barraqueiros trazem novidades. As atrações são tantas, encantando gente grande e gente pequena; elas estão espalhadas pela cidade.

Finalizando as comemorações religiosas, os cristãos caminham pelas ruas fervorosamente em procissão com a imagem da santa padroeira. O séquito segue célere e cada um à sua maneira cumpre seu ato de fé.

Já é noite e a festa prossegue. Entre moças e rapazes, muitas roupas bonitas, elegância, sapatos engraxados, ternos engomados e gravatas bonitas. É gente de todos os lados. É a família bocainense oferecendo hospitalidade, virtude peculiar dos filhos da terra de Borges Marinho.

“Enfim: muitas Marias e muitos Josés louvando Nossa Senhora e recebendo a todos numa mistura de fraternidade e fé. Animando a noitada, muita música ao vivo, muita alegria, companheirismo, dança, muito amor e saudade... Saudade dos entes queridos que já partiram para a eternidade”.

Isso tudo faz parte da vida de cada um. Uma verdadeira magia envolvendo as pessoas numa só emoção. Afinal: “na mesma praça, as mesmas flores” e gente bonita. São 260 anos de tradição e fé. (1754 a 2014).

Nossa homenagem ao tenaz e laborioso povo bocainense que, ao longo destes 260 anos, souberam manter viva a nossa maior tradição. Mostrando que tudo é possível quando existe fé e perseverança. Foi assim que chegamos até aqui.

A semente plantada por Antônio Borges Leal Marinho e Raymundo de Souza Britto, continua firme dando bons frutos e aumentando a nossa fé.

Parabéns autoridades eclesiásticas, civis, militares, festeiros, visitantes e demais pessoas que de uma forma ou de outra possam colaborar com o sucesso dos 260 anos da Festa de Nossa Senhora Imaculada Conceição em Bocaina, Piauí.

Crônica extraída no livro “Vozes da Ribeira” de autoria de Firmino Libório Leal.

Bocaina Pago Amado

Foto: Jornalista Chico Libório
Bocaina, Pago AmadoCrônica
Firmino Libório Leal


A povoação e adensamento da Bocaina se dão mesmo com a fixação de Borges Marinho e seus agregados, a partir da ereção da capela do lugar em 1754. Nos anos seguintes Bocaina ficou sob a jurisdição civil e eclesiástica de Oeiras, o que continuou até 1890, com a criação do município de Picos quando Bocaina passou à jurisdição deste município então recém criado.

O município de Bocaina foi criado por força da Lei Estadual nº. 2561, de 19 de dezembro de 1963, sendo sua instalação solenizada em 10 de abril de 1964. Na ocasião foi empossado o seu primeiro prefeito nomeado, o Senhor Benvindo Luiz da Luz.

A meu ver, Bocaina é uma cidade promissora; além da sua rica e bela história, do seu já existente turismo religioso, outros fatores poderão incrementar ainda mais outras formas de turismo, pois o município desperta para esta vocação. Vejamos: a legendária urbe possui uma paisagem agro-silvo-pastoril, o seu relevo com colinas, morros, montes, várzeas, baixões, e ainda a existência de um lago artificial, apropriado para esportes náuticos, pesca amadora e de subsistência, construção de ranchos e casas de veraneio ao seu derredor. A exploração do Morro Grande é feita por meio de passeios ecológicos e caminhada de eco-turismo na Pedra Ferrada e no Talhado Branco. O turismo rural nas fazendas centenárias como: Boa Vista, Neném Santos, Malhada, Ramalhete, Carvalho, Lagoa Grande, Cajueiro, Serra Alta, Barra, Riacho, Baixa do Paulo etc. O fato de Bocaina ser próxima a outras cidades lhe dá um aspecto de vantagem em relação às demais, pois seu acesso é muito bem traçado e de pavimentação de boa qualidade, tornando o trajeto uma viagem aprazível e salubre. Outro fator importante é que seu clima é ameno; e a vegetação predominante ainda preservada ajuda de certa forma a formação de um ambiente agradável. Certamente, em breve, sua riquíssima história servirá de mola propulsora para o progresso.

Bocaina carece urgentemente de um memorial, no qual seria inserido o ato da chegada de Borges Marinho ao local. Esse memorial teria anexo uma Casa de Cultura, um Museu e uma Biblioteca.

Antônio Borges Leal Marinho é considerado pela crônica local o fundador de Bocaina-PI. Filho mais velho de João Borges Leal Marinho e Anna de Souza Britto. Antônio foi tenente de milícias na cidade de Chaves-Portugal. Migrou para o Brasil em 1730, fixou residência em Jacobina Bahia, depois, veio para Boqueirão (hoje município de Bocaina-PI).

De Oeiras a Patrocínio (hoje Pio IX), conquistou significativo patrimônio territorial. Pioneiro nato, sertanista desbravador, deu início à construção da histórica Igreja de Bocaina que, em oito de dezembro de 2004, completou 250 anos de sagração pelo Jesuíta João Sampaio. O Piauí nasceu em Oeiras, e com certeza as povoações de todo o vale guaribenho nasceram e prosperaram através da fixação de Borges Marinho e seus agregados nas terras da Bocaina.

São muitos os ilustres conterrâneos nascidos em nossa cidade, destaques nas letras, nas artes, na política, e em todos os segmentos da inteligência humana. Citá-los, seria incorrer em algum esquecimento imperdoável. No momento convidaria os leitores para visitarem a progressista e bem administrada Bocaina, para saborear o famoso bolo pau-de-mamão, e apreciar as plácidas águas do açude Bocaina. Visitando a nossa cidade no mês de dezembro o turista poderá assistir à festa da Padroeira, com quermesses, botequins, novenas, manifestações religiosas de deleite e fé cristã e, muitos outros atrativos que fazem da Bocaina este recanto alegre e feliz do rincão piauiense.

Da minha aldeia vejo o quanto se pode ver do Universo. Por isso, a minha aldeia é tão grande como outra qualquer.” Fernando Pessoa".

Crônica publicada no livro “Vozes da Ribeira” publicado UPE - União Picoense de Escritores em janeiro de 2008.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vozes da Ribeira "Um Achado"




Na sexta-feira, 25 de janeiro de 2008, tive a oportunidade de participar do lançamento do livro “Vozes da Ribeira” de autoria do irmão Firmino Libório Leal. Os eventos literários que, em sua maioria, não despertam o interesse da população, este por sua vez, lotou o auditório da Associação Comercial e Industrial da Grande Região de Picos, para nossa surpresa e satisfação do autor que conseguiu mudar a rotina de muitos que lá estiveram prestigiando o ato, como é o caso de Adebaldo Nogueira, não fosse o lançamento de Vozes da Ribeira, certamente estaria numa mesa de bar tomando uma geladinha, assim como muitos outros, Dona Leda Luz, que dificilmente deixa seu lar para estar em qualquer evento, mas este em especial conseguiu rouba-la alguns minutos de seus afazeres domésticos, mas se fosse nominá-los todos que se fizeram presentes estariam em outros lugares, mas certamente uns seriam mais difíceis que outros de abandonarem sua rotina, somente Firmino Libório conseguiu e com certeza não se arrependeram da mudança, pois puderam através do recital, das histórias e do conteúdo geral do evento rememorarem momentos felizes que um dia viveram ao lado do autor, além é claro de com a leitura se encontrarem com Firmino numa volta ao tempo, assim como fiz quando li e reli Vozes da Ribeira, apesar de já conhecer algumas das crônicas, mas as li novamente com o mesmo entusiasmo de antes, sendo que com mais atenção.Pela nossa diferença de idade, não vivi no mesmo tempo e espaço que Firmino, mas algumas das passagens foram tão bem narradas que viajei e transportei-me no tempo e foi como se estivesse estado nos mesmos lugares, convivido com as mesmas pessoas e participado dos mesmos momentos. Vozes da Ribeira não um livro, um simples livro, é um documento histórico que resgata a história de pessoas, de fatos, do esporte, da cultura, da vida e do comportamento de um povo e de uma época. Feliz idéia, feliz iniciativa, feliz concretização de um sonho do autor que ao realizar seu sonho contemplou-nos com essa belíssima obra literário-histórica.Vozes da Ribeira é um livro escrito em 103 páginas, cada uma mais rica que a outra. Cada crônica nos convida à próxima, deixando-nos sempre com um gostinho que ir à frente. Nele, Firmino imortaliza fatos e pessoas das cidades por onde passou e viveu, como Picos, Bocaina, Oeiras, Uberaba, Uberlândia e Conquista. Os textos foram escritos com a alma e a simplicidade que lhe é peculiar, registrando fatos vividos por ele e outros repassados de geração em geração. O autor soube selecionar os temas e descrevê-los melhor ainda.

Qualquer adjetivo ou a soma de todos os adjetivos será pouco para qualificarmos Vozes da Ribeira, a riqueza dos textos estão a partir das opiniões de amigos, do prefácio do irmão Chico Libório, do texto do poeta Vilebaldo, das reminiscências do esporte, histórias das amplificadoras, de lideranças políticas como Justino Luz, lembranças do rio guaribas, dos seus poços, das suas belezas, dos nomes jocosos de pessoas, nomes esses que perduram até os nossos dias, não sendo os mesmos, mas de outros que nos fazem lembrar dos que já se foram. Lembrar de Chico Barbosa é fazer justiça à poesia, à história, ao rádio e ao repente, um homem de vida ativa em todos os setores da sociedade picoense e que em vida fora homenageado dando o nome à Rua Moura Barbosa e a uma escola municipal Francisco de Moura Barbosa, um homem que contribuiu com o progresso e o desenvolvimento da cidade modelo.O livro “Vozes da Ribeira” resgata a história do nosso velho cine Spark que conheci e vivenciei os últimos dias de seu apogeu, da Praça Félix Pacheco, ponto de encontro da juventude picoense até os anos 90, hoje o ponto mudou-se de endereço para Praça de alimentação, na confluência das ruas Olavo Bilac com Monsenhor Hipólito, onde estão instaladas a Donna Pizza, Picanharia Gril e Pizzaria Boca de Forno. Firmino registra ainda os festejos de nossa senhora da Conceição, narrando a passagem dos 250 anos de padroeira, oportunidade em que resgata a história de Bocaina, além de correspondências enviadas aos amigos Odorico Carvalho e Graziani Gerbasi, além de uma homenagem a Fogoió de Zequinha.Agora faço como o autor que faz relembrar dos bons tempos da querida Picos, pacata, hospitaleira com seus poços e campos de poeira para o lazer da juventude. Aos domingos, Picos era uma festa só, vários campos de poeira, todos lotados e ao final dos jogos, a maioria corria para os poços do Guaribas para tomar banho ou então para o poço das almas, um dos poços jorrantes de Picos que ficava na Rua Luis Nunes, em frente ao Cemitério São Pedro de Alcântara, nas proximidades do Hospital Justino Luz, lá tinha uma mangueira e o poço jorrava vinte e quatro horas, à noite ninguém tinha coragem de passar nas proximidades dele, pois com o barulho da água e da mangueira quando ventava formavam um som amedrontador e todos diziam que eram as almas. Ah! Que saudades. Firmino, esta foi a maior contribuição que você deu à cultura e à história de Bocaina, de Picos, de Oeiras, do Piauí e porque não dizer do Brasil. Sucesso meu irmão.
Vozes da Ribeira é um achado.

* Francisco das Chagas de Sousa - jornalista e presidente da ALERP - Academia de Letras da Região de Picos. (Teresina, PI, 30.01.2008).


Um Cronista das Ruas e Tipos Piauienses
Existem muitos cronistas de cidades. São escritores que observam ruas e pessoas com o olhar peculiar de quem busca retratar a alma do lugar em que vivem. Assim é Firmino Libório Leal, um jornalista que escreve reportagens, crônicas, causos, especialmente sobre sua terra natal: o Piauí.Em Vozes da Ribeira, Libório Leal revive o cenário de uma época da vida urbana e rural da região de Bocaina, Picos, Oeiras e outras cidades. Ele se distingue pelo palavreado típico, resultado das referências culturais piauienses. Leal é um verdadeiro defensor da cultura nordestina. Suas crônicas são vozes emergentes que revelam a alma do povo, falam das ruas, dos lugares, das personagens típicas da região, da vida das pessoas e das viagens que fez pelo Brasil.Vale a pena conhecer as peculiaridades do povo piauiense e se inspirar e viajar junto com o autor, a fim de que, num processo recíproco, o leitor se torne protagonista da narrativa, como se ele mesmo fosse ator nessa história.
Vilebaldo Nogueira Rocha
União Picoense de Escritores - UPE