terça-feira, 7 de julho de 2009

Carta a Odorico Carvalho


Caríssimo Odorico Carvalho:

Apraz-me o privilégio e a honra de ter como berço o mesmo pago que o viu nascer. Li, via Internet, sua belíssima crônica intitulada: “Uma tragédia humana”. Trata-se de uma pérola, fruto dos sentimentos que brotam do fundo do coração de um insigne literato e musicista que possui, além destas, outras qualidades que são peculiares de quem nasceu nesta terra abençoada, berço de tantos vultos ilustres.

A maneira como você discorreu sobre seus sentimentos nos transportou a 1963 quando, em conseqüência da firme amizade reinante entre os nossos pais, a sua casa nos foi cedida para que passássemos o período do plantio da safra de alho junto ao velho e bondoso rio Guaribas, então ainda cristalino e piscoso.

Certo: eu me lembro bem de algumas particularidades daquela belíssima propriedade, entre as quais destacamos o curral, que ficava no oitão a leste da casa. Foi lá que vi, pela primeira vez, um girassol, célebre, o qual enfeitava a porta de entrada da cozinha que dava para um roçado ali próximo. Nos fundos da casa existia um jardim natural composto de várias “Moitas Brancas”, enfileiradas e entrelaçadas como se ali tivessem sido plantadas pela mão do Grande Geômetra do Universo. À tardinha, nós tínhamos que levar o gado até o rio Guaribas, que fica ali próximo, o que fazia parte das nossas atividades corriqueiras. Depois fazíamos a “apartação”, algo que consiste em separar as vacas lactantes dos bezerros, seus filhotes. Lembro-me do touro principal: era da raça Gir, malhado em preto e branco, e tinha por nome “Jardineiro”; um belo exemplar da espécie, digamos de passagem. Tudo pertencia à sua família e nos foi confiado naqueles dias, inclusive o leite, em conseqüência da sólida amizade existente entre os nossos progenitores.

Essas imorredouras lembranças nos transportam aos tempos áureos do verdor da nossa meninice, da nossa infância. Vez por outra, quando vou à Lagoa Grande, ao me deparar com a casa que você descreveu com impressionante lirismo, subo num pequeno belvedere que chamávamos de “Barrocão” e fico a contemplar a casa e a paisagem à sua volta, como se fosse uma tela pintada pela mão do Criador. Saudades...

Crônica extraida do livro "Vozes da Ribeira" publicado pela UPE - União Picoense de Escritores em fevereiro de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário